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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

LA VEM O ISON

Faz um tempinho que o Ison não aparece aqui no blog, então vamos dar as últimas notícias?
Na semana passada a Nasa divulgou uma foto obtida com o telescópio espacial Hubble mostrando que ele ainda está inteiro. Você sabe, o Ison foi aclamado como o “cometa do século”, pois ele estava muito brilhante para a distância dele, ainda além da órbita de Júpiter. Aplicando-se os modelos que descrevem o crescimento de cometas conforme eles se aproximam do Sol, a previsão era de que ele talvez pudesse ser visto de dia!
Tamanho brilho, a uma distância tão grande do Sol, era explicado pelo fato do Ison ter em seu núcleo uma grande quantidade de material volátil, como gelo seco e gelo de água. Mas aí vem uma outra questão, cometas com grandes quantidades de material volátil não resistem às intensas forças gravitacionais ao se aproximarem do Sol e podem se romper muito mais facilmente. E o Ison deve se aproximar muito do Sol no final de novembro, tão próximo que as estimativas são de que ele atravesse a coroa solar.
Além de se submeter à força intensa da gravidade do Sol, o cometa enfrentará temperaturas muito altas e para um núcleo com grande quantidade de gelo isso traz uma expectativa de sobrevivência muito baixa.
Bom, só que o Ison não conhece os modelos de aumento do brilho com distância e saiu do roteiro, mantendo-se muito abaixo do previsto. Esse comportamento foi explicado pelo especialista em cometas Ignacio Ferrín através de um modelo em que o núcleo é na verdade pobre em gelos (“O chabu do século”).
Desde que o cometa voltou a ser visível novamente, em meados de agosto, seu brilho medido tem permanecido constante, mesmo se aproximando cada vez mais do Sol. Outro comportamento bizarro. Aplicando-se lá os modelos de aumento de brilho, a previsão é que ele atingiria no máximo magnitude 6, o que é o limite que se pode observar a olho nu em lugares muito escuros. Isso para estrelas, para cometas, esse valor representa todo o brilho estendido integrado em um ponto, como se fosse uma estrela. Mandando a real, ninguém ia conseguir ver o ISON sem um par de binóculos, pelo menos.
Mas eis que as coisas parecem que estão mudando para melhor!
Bruce Gary, um rádio astrônomo aposentado que se tornou um astrônomo amador no Arizona (EUA) tem acompanhado a evolução do cometa desde sua “redescoberta” em agosto. Suas observações, feitas nos três últimos dias, mostram um aumento de brilho real e consistente do cometa! Mais do que o aumento esperado pela simples diminuição da sua distância até o Sol. Isso demonstra que aparentemente o núcleo está ativo.
Desde maio, o núcleo do Ison vinha mostrando um jato de gás, oriundo do escape dos vapores em seu interior, apontando diretamente na direção do Sol. Nessa imagem da semana passada do Hubble que citei acima, o jato desapareceu! Existe alguma controvérsia a respeito desse fato, mas os astrônomos que analisaram a imagem aplicando modelos teóricos de emissão de brilho de cometas foram conclusivos a respeito. Só que o Ison não parece ser do tipo de cometa que segue modelos teóricos, ao menos os modelos mais gerais.
A imagem acima foi obtida dois dias atrás por Gary, e é possível notar um pouco dessa atividade. A coma, que é o gás que envolve o núcleo, tem uma cor esverdeada por causa da evaporação de compostos moleculares, como o cianeto. Já a cor avermelhada tem a ver com a reflexão da luz do Sol por grãos de poeira.
Bom, e aí? Dá para dizer se o Ison será o cometa do século, ou o chabu do século? Pelo que eu vi do pessoal da Nasa, ninguém quer mais dar palpite sobre um cometa tão peculiar. Na pior das hipóteses, se esse brilho recente não se mantiver, o cometa deverá atingir magnitude 6 e será preciso algum tipo de instrumento para vê-lo.
Mas se esse aumento detectado nos últimos dias se sustentar, fiz uma estimativa bem rasteira que deu algo em torno de magnitude 4, ou até menos. Com esse brilho o cometa poderia ser observado a olho nu em locais escuros, não seria o furor que se esperava no começo do ano, mas também não seria o fracasso previsto no meio do ano.
Bom, vou acompanhar o comportamento desse cometa nos próximos dias e vou atualizando as informações aqui.
Crédito da foto: Bruce Gary

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